NA ILHA POR VEZES HABITADA
Na ilha por vezes habitada do que somos,
há noites,
manhãs e madrugadas em que não
precisamos morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado
definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem
-se as palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e
apertamo-la nas mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável:
o contorno, a vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres,
com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à
roda do mundo infatigável,
porque mordeu a alma até aos ossos dela.
Libertemos devagar a terra
onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raíz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.
José Saramago
Prêmio Nobel de Literatura 1999
Nenhum comentário:
Postar um comentário