Bárbara Eliodora
Conselhos a Meus Filhos [1]
I.
Meninos, eu vou ditar
As regras do bem viver;
Não basta somente ler,
É preciso ponderar,
Que a lição não faz saber,
Quem faz saber é o pensar.
II.
Neste tormentoso mar
De ondas de contradições,
Ninguém soletre feições
Que soletre feições,
Que sempre se há de enganar,
De caras e corações
Há muitas léguas que andar.
III.
Aplicai, ao conversar,
Todos os cinco sentidos,
Que as paredes têm ouvidos
E também podem falar;
Há bichinhos escondidos
Que só vivem de escutar.
IV.
Quem quer males evitar,
Evite-lhe a ocasião,
Que os males por si virão,
Sem ninguém os procurar:
Antes que ronque o trovão
Manda a prudência ferrar.
V.
Não vos deixeis enganar
Por amigos, nem amigas,
Rapazes e raparigas
Não sabem mais que asnear;
As conversas e as intrigas
Servem de precipitar.
VI.
Sempre vos deveis guiar
Pelos antigos conselhos,
Que dizem que ratos velhos
Não há modos de os caçar;
Não batais ferros vermelhos,
Deixai um pouco esfriar.
I
in: PARNASO brasileiro; ou, Coleção das melhores poesias dos poetas do Brasil, tanto inéditas, como já impressas. Org. Cônego Januário da Cunha Barbosa. Rio de Janeiro: Tip. Imperial e Nacional, 1830. v.1, caderno 4, p.74-76 NOTA: Poema composto de 12 sextilha
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