domingo, julho 23, 2006

CANTO AO HOMEM DO POVO - Carlos Drummond de Andrade


Canto ao homem do povo
Carlos Drummond de Andrade
Charles Chaplin
Uma cega te ama. Os olhos abrem-se.
Não, não te ama.
Um rico, em álcool,
é teu amigo e lúcido repele
tua riqueza. A confusão é nossa, que esquecemos
o que há de água, de sopro e de inocência
no fundo de cada um de nós, terrestres. Mas, ó mitos
que cultuamos, falsos: flores pardas,
anjos desleais, cofres redondos, arquejos
políticos acadêmicos; convenções
do branco, azul e roxo; maquinismos,
telegramas em série, e fábricas e fábricas
e fábricas de lâmpadas, proibições, auroras.
Ficaste apenas um operário
comandado pela voz colérica do megafone.
És parafuso, gesto, esgar.
Recolho teus pedaços: ainda vibram,
lagarto mutilado.

Colo teus pedaços. Unidade
estranha é a tua, em mundo assim pulverizado.
E nós, que a cada passo nos cobrimos
e nos despimos e nos mascaramos,
mal retemos em ti o mesmo homem,
aprendiz
bombeiro
caixeiro
doceiro
emigrante
força
do
maquinista
noivo
patinador
soldado
músico
peregrino
artista de circo
marquês
marinheiro
carregador de piano
apenas sempre entretanto tu mesmo,
o que não está de acordo e é meigo,
o incapaz de propriedade, o pé
errante, a estrada
fugindo, o amigo
que desejaríamos reter
na chuva, no espelho, na memória
e todavia perdemos.

Um comentário:

  1. Anônimo7:16 PM

    Realmente Carlos Drummond é incrivel!!!!!!!!
    Estou fazendo um trabalho sobre ele,e gostaria da ajuda de todos vcs!!!!!!!
    Me ajudem a mostrar a todos que Carlos Drummond de Andrade não foi um simples escritor,ele foi O ESCRITOR!!!!!
    Estou me preparando para a feira de ciencias e não desistirei de falar sobre ele,por isso me escrevi na lista da matéria de português !!!!!!!!
    Ok!!!!!!
    Me respondam sobre como fazer uma coisa legal que realmente impressione todos!!
    Beijos!!!!!!!!

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