domingo, julho 02, 2006

A Bela Encantada - Joaquim Manuel de Macedo


Joaquim Manuel de Macedo
A Bela Encantada
(Escrito no álbum de uma Senhora)
Mancebo imprudente, leviano mortal,
Ausenta-te, foge, se não, ai de ti!
Não fiques num sítio, qu'é sítio fatal,
Não pares aqui.
(...)
Se a visses... tão bela!... de branco vestida,
Coas negras madeixas no colo a ondear,
Tão só, qual princesa de um trono abatida,
Cismando ao luar...
Se a visses... tão branca, da lua ao palor
Uma harpa sonora então dedilhar,
E à margem do lago ternuras de amor
Essa harpa entornar...
Se então tu a visses... tão branca e tão bela
Com a harpa inclinada no seio ao revés,
Vertendo harmonias, com a lua sobre ela,
E o lago a seus pés...
Se a visses... não vejas, incauto mortal;
Ah! foge! ind'é tempo; não pares aqui;
Não fiques num sítio que é sítio fatal;
Se não — ai de ti!...
Não vejas a bela, que em vê-la há perigo;
Estila dos lábios amávio traidor;
Não vejas!... se a vires... — eu sei o que digo!...
- Tu morres de amor!
Rio de Janeiro, 17 de setembro de 1849 In: GUANABARA: revista mensal, artística, científica e literária.
Rio de Janeiro, v.1, n.5, p.178-180. 185

4 comentários: