Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira... (Cecília Meireles)
domingo, julho 02, 2006
Arte de amar - Thiago de Mello
Arte de amar
Thiago de Mello
Não faço poemas como quem chora,
nem faço versos como quem morre.
Quem teve esse gosto foi o bardo Bandeira
quando muito moço; achava que tinha
os dias contados pela tísica
e até se acanhava de namorar.
Faço poemas como quem faz amor.
É a mesma luta suave e desvairada
enquanto a rosa orvalhada
se vai entreabrindo devagar.
A gente nem se dá conta, até acha bom,
o imenso trabalho que amor dá para fazer.
Perdão, amor não se faz.
Quando muito, se desfaz.F
azer amor é um dizer
(a metáfora é falaz)
de quem pretende vestirc
om roupa austera a beleza
do corpo da primavera.
O verbo exato é foder.
A palavra fica nua
para todo mundo ver
o corpo amante cantando
a glória do seu poder.
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