Soneto
Adélia Fonseca
Ainda um ano, filha, hoje se escôa
do tempo na ampulheta, que não cansa;
e nem sequer mitiga uma esperança
a dôr de te perder, que me magôa.
O alígero tempo, quando vôa,
os males nos apaga da lembrança;
mas do martírio meu não há mudança
nos agudos espinhos da corôa.
Antes, para agravar-me a desventura,
da vida apenas na ridente aurora,
rouba-me a morte inexorável, dura,
teu filhinho adorado, a quem, outróra,
beijei mil vêzes, louca de ternura,
e que, louca de dôr, pranteio agora!
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