Poesia, Judô e Política

Poesia, Judô e Política
Domingos de Souza Nogueira Neto*

Durante a vida, aprendi algumas coisas. Nada que me tornasse um modelo líder ou coisa que o valha. Coisas estudadas nestas três escolas: Poesia, judô e política.
Da poesia, aprendi que mesmo sendo pouco importante, tenho algo a dizer, não do meu talento, mas do meu sentimento, e da importância e beleza disto.
Do judô aprendi a tratar adversários e adversidades com respeito, a levantar sempre que caio, e a aprender nestas quedas.
Pratico o judô desde a infância sem os êxitos com que sonhei, confesso, mas com sinceridade e esforço.
A literatura também vem da minha infância, minha mãe nunca esteve tão cansada que não pudesse ler algo para mim, antes do meu sono. Daí o amor pela poesia o por minha mãe veio de fábrica.
A política veio mais tarde, o silêncio da década de 1970, me pegou criança, fui tomado por certo medo deste tema.
Ao longo da vida, aprendi (como outros), a não gostar de políticos e política. Mas a literatura me mostrou (e mais tarde a vida acadêmica), que todos somos políticos de certa forma, e que o analfabeto político é um perigo para si mesmo e para os demais.
Ouvi dizer que o homem nasce bom, mas que a sociedade o corrompe e que o homem é o lobo do homem. Aprendi também que mais grave que a audácia dos corsários é o silêncio dos homens de bem.
Militei no movimento estudantil a partir do final da década de 70 e em parte da década de 80, e ajudei a construir o Partido dos Trabalhadores. Presenciei com tristeza, mas não com surpresa, a degeneração do PT na medida em que se aproximava do poder. O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente.
Na década passada se verificaram também notícias do judô em páginas de polícia. O que mostra quão poucos talentos de prata bastam para se ameaçar um templo.
Tudo isto, por uma razão.
O judô brasileiro vem passando por uma bela fase. E mesmo os que sabem pouco sobre o judô dão notícias disto. Ultrapassou a pouco tempo uma crise institucional profunda para se tornar vencedor no cemnário mundial.
Inúmeros sites importantes dão notícias do judô, entre estes, meus favoritos: o da Confederação Brasileira de Judô (http://www.cbj.com.br/) e o do Judobrasil (http://www.judobrasil.com.br/).
Ontem, de noite, lendo as notícias do Judobrasil vi uma matéria intitulada: “Brasil diz amém: mais uma vez” (http://www.judobrasil.com.br/2006/divulg160.htm).
A matéria se inicia com uma denuncia ao silêncio da CBJ quanto a negativa de visto a atletas brasileiros para competir nos Estados Unidos, o que parecia razoável apesar de certo desrespeito no tom. Continua dizendo que a CBJ divulga matérias sobre o judô americano que pouco dizem respeito aos brasileiros, posição esta falsa, sobre qualquer ângulo. Depois parece insinuar que a CBJ se vangloria de ser a responsável por ter levado o atleta Aurélio Miguel ao Hall da Fama dos Atletas da América, o que seria bobagem, porque o lugar só poderia pertencer mesmo a ele. Ora!
O que quero dizer, sem nenhuma pretensão de ser importante, de ter eco, de ser lido, mesmo que seja apenas como um desabafo, é: Dêem sossego! Será que ninguém pode tratar as questões com seriedade e respeito neste país?
Existem projetos diferentes para a administração da Confederação Brasileira de Judô/CBJ, que colocarão em campo - no momento eleitoral oportuno - e no mais legítimo exercício da democracia - posições divergentes. Mas deve existir uma forma de apresentar estes projetos com a mesma delicadeza, urbanidade e humildade, que são exigidas – e bem exigidas – nos tatames e dôjos.
Como exigir que dois atletas, na flor da idade, com a “adrenalina a mil” se respeitem em uma luta dura, vendo dirigentes em disputa por um poder (que não dá para encher um dedal), “mordendo canelas” e dando “dedadas nos olhos”.
Façam as coisas com elegância, com grandeza! permitam ao judô a poesia com a qual é ensinado! E prestem atenção: A história pode ser dura com os que trocam poderes por princípios.

*Fonte: judoepoesia – Redação – http://judoepoesia.blogspot.com/