terça-feira, junho 20, 2006

NALGUM LUGAR - Zeca Baleiro


Nalgum Lugar
Zeca Baleiro

Composição: Indisponível
Nalgum lugar em que eu nunca estive,
alegremente além
de qualquer experiência,
teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil,
há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar,
porque estão demasiado perto.
Teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra,
embora eu tenha me fechado como dedos,
nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala
como a primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente)
a sua primeira rosa.
Ou se quiseres me ver fechado,
eu e minha vida,
nos fecharemos belamente,
de repente
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
Nada que eu possa perceber
neste universo iguala
o poder de tua intensa fragilidade:
cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte
e o sempre
cada vez que respira.
(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre;
só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos
é mais profunda que todas as rosas)
ninguém,
nem mesmo a chuva,
tem mãos tão pequenas.

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