quarta-feira, maio 03, 2006

URGENTE!... NÂO MATE A SAUDADE

Texto: Adelmario Sampaio © 2004

Já ouviu dizer que se deve matar a Saudade?...

Não, eu peço, não a mate... Porque ela é o sentimento mais próximo do amor. Confundida com o seu companheiro às vezes, porque tanto se parecem que muitas e muitas vezes se fundem nesse emaranhado agradável no coração de quem ama. Porque mesmo que o Amor esteja perto é preciso que haja pelo menos um pouco do espírito da Saudade pra que ele sobreviva. Sem ela não se consegue falar com quem está perto...

Já sentiu saudade de alguém que está perto?...
Isso é um sintoma que pode ser bom ou ruim...

Bom, se você ainda puder compartilhar com este alguém (que está perto), daquele sentimento que um dia surgiu não se sabe como. Sim, aquele que envolveu tanto uma como outro (Amor e Saudade), num halo benfazejo de sentimentos em cadeia que, como numa concepção gerava outros filhos parecidos... Como se a alma estivesse concebendo e parindo a essência do que eleva o espírito a caminhar cada vez mais as alturas que somente o Amor pode mostrar;

E ruim, se esses momentos voltam ao coração como uma punhalada de um desejo incontido, mas inconfessável. Ruim ainda, quando se tornou difícil o estender da mão, e quando o braço endurecido do desamor parece fazer emperrado o membro que deseja fazer o gesto que por falta de forças não o faz... Ou ainda se a palavra vem pesada como um arrastar de anos de um paladar seco, e o silêncio é tão constrangedor como a face da agonia e do medo.
Porque embora sendo a saudade ruim, há algo aproveitável dela, porque quase sempre um e outro estão justamente esperando um gesto que não há forças pra nascer. Pode ser que um espere ouvir do outro a palavras mágica que está calada no deserto do seu próprio coração... Pode ser ainda que esta saudade possa ser um sinal a mais que o próprio Amor conserva um pouco da sua semente eterna incubada...

Não, não mate a saudade...
Aviva-a como quem acende uma fogueira em dia de frio, porque há indícios de que nesse monte de cinzas adormecidas haja brasas vivas precisando de um vento, uma brisa, um assopro...

Não mate a saudade eu apelo mais uma vez...
Se ela morrer, é provável que você morra junto, sabia?... Porque é mil vezes melhor ter saudade que fastio e enfado. Porque não existe saudade nos corações enfastiados... A saudade alimenta o Amor enquanto o fastio teima em querer que ele morra de fome. A saudade derrama o vinho de vida na boca do Amor enquanto o fastio deseja que ele morra de sede...
A diferença entre a Saudade e o Amor, é que você pode mesmo sufocar uma, enquanto o outro que é eterno foge pra longe, e ocupa seu lugar um pouco mais adiante e mais acima... Mas lá, nesse lugar elevado, fará sempre que outros o abracem e comecem sentir saudade, repetindo pela enésima vez o mesmo milagre...

Não mate a Saudade, porque estou desconfiado que ela ama o Amor...
É ela quem faz com que o ele seja presente quando longe...

Já sentiu saudade de quem jamais viu?... Isso é um mistério que conto depois...
Foi dito com propriedade que Deus é o Amor. Só conhece-O quem tem saudade dele quando perto... Só o procura quem já o encontrou no meio desta distância indefinida... Só está perto Dele quem a Saudade invadiu gostosamente esse espaço onde antes habitava o vazio, o abismo, as trevas... Onde não havia lembranças da Saudade.
Há uma guerra dentro de nós... Ou a saudade mata o vazio, ou este mata a Saudade... A morte dela é o vazio, a indiferença da frieza... Os dois não vivem no mesmo espaço.
O caos... Matar a Saudade é o caos...

Atenção, urgente!... Não mate a Saudade, porque pareceu a mim nesse momento que a vi de braços dados trocando beijos com o Amor... Não tenho muita certeza do que vi, mas vias das dúvidas, não mate a Saudade...


*

Nenhum comentário:

Postar um comentário