INÍCIO
Nicolau SaiãoO espaço da pintura é o espaço
- limite objectivo dos nossos olhos. Um ponto, uma face
um edifício. Se as coisas se confundem
se desunem, se ultrapassam
ou interpenetradas
se desfazem
o pincel vai servir
de medida: assim, o encontro
que Picasso referia
é a muitos títulos inominável. Talvez
notícia, premonição, aviso
talvez apenas modo
de falar, de dar
a ver. Talvez
bem mais do que isso: um fermento invencível
na floresta dos símbolos. O círculo, o quadrado
o triângulo amoroso: a Cor, o Mundo, o Homem
e a Forma dos seus corpos. Assim se reconhece
o Universo. Como se fosse inteiro
a projecção e a mancha de si mesmo. Existe
em vários planos
a pintura. E em vários horizontes
é negra, azul, cinzenta
como o fogo que cresce
no vermelho da voz
e no branco do sangue. Tão serena e tão pura
como animal do mato: ao mesmo tempo
tudo - emoção, decisão - e nada. Pois que serve
para ligar visível e invisível. Por vezes se diz dela
que é a escolha possível
da liberdade, se acaso ocupa
o quotidiano lugar da nossa habitação.
Nem fiel nem
distante, verdade apenas no seu coração vivo
e propagado
a pintura constrói
um exílio terrestre: e jamais se repete
ou se rende
não se compra
nem se vende
como oceano ausente
e navegado
Perpétuo desaparecimento do futuro, do passado
se se move oprimido a seu lado o presente.
in “Caixa de Cores”
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