domingo, maio 28, 2006

Crônicas da Copa por Sabine Kiefer


27/5/2006 19:33:00
Crônicas da Copa
Por Sabine Kiefer
Uma cidade está se preparando.

As turistas procuram a cidade de Colônia geralmente por causa da sua Catedral famosa, situada no centro da cidade entre o rio Reno e a estação ferroviária. A altura de 150 metros e a pujança desta obra-prima da arquitetura gótica já impressionaram tantos turistas, quando saíram da estação e olharam à esquerda! Para nós que nascemos aqui, a Catedral é um ponto de referência. Vê-la, já de longe, significa sentir-se em casa. Começaram a construí-la em 1248 para abrigar as relíquias dos três Reis Magos numa igreja condigna. Levou mais de 600 anos até que as obras estavam completas. Mas para falar a verdade, a Catedral continua sendo uma obra em construção. Sempre tem um andaime montado em algum lugar dela, seja mais baixo no solo, seja mais pra cima colocado em uma das torres. Sempre tem algo para consertar, renovar ou melhorar, porque a pedra usada é uma pedra macia e suscetível de influências de tempo. São em torno de 60 artífices que cuidam permanentemente da Catedral. Passando por ela nestes dias, se vive uma bela surpresa. Desapareceram todos os andaimes. Parece que a Catedral já se embelezou para saudar os inúmeros visitantes do mundo inteiro e sobretudo do Brasil. Colônia será o reduto brasileiro na Copa. À sombra da Catedral, terá um dos telões de 40 metros quadrados colocados na cidade, que transmitirão os jogos para todos que nao quizeram ou conseguiram comprar os ingressos. Normalmente está proibido fazer festas barulhentas ao lado da Catedral, mas a administração da Catedral – ela funciona como paróquia – fez uma exceção e antecedeu os horários das missas, e os organizadores da festa se comprometeram transmitir somente 14 jogos nesta praça. Da Catedral até a praça chamada `Heumarkt`, no centro histórico da cidade, haverá a festa de fãs com uma programação vasta. Será uma festa de superlativos, uma festa de 31 dias com 7.600 apresentações de 1.600 artistas. Mas disso, ainda nao se faz idéia andando pelas ruas do centro histórico. Esta área ainda está nas mãos de operários de construções e de jardineiros.

O sentido da esposa

A esposa de um colega meu de trabalho tem o sétimo sentido. Quatro anos atrás, antes da Copa no Japão e Coréia do Sul, ela não parou de dizer que a nossa seleção (a da Alemanha) iria chegar até o jogo final. Ninguém apostou nesse time, e a vergonha sobre a eliminação prematura em 2000 na competição européia ainda estava forte. A esposa do meu colega sofreu com beliscões, mas no dia da final, 30 de junho 2002, ela estava feliz e junto com ela, todos nós. Realmente, o time tinha nos surpreendido, depois de umas resistências – preferimos criticar o time do que elogiar – o país entrou numa folia.

Ontém, durante do trabalho numa pequena pausa, o colega já mencionado e eu batemos um papo sobre a convocação da seleção e comemos um docinho de forma redonda, como se fosse uma bola. De verdade, não existe mais uma loja que não ofereça um produto de forma redonda. A Copa no comércio já está a toda marcha.

„Sim, ele fez bem“, o meu colega tentou a constar racionalmente. Mas como sempre nestas conversas de futebol, a voz e a postura rápidamente ganham uma aura de tristeza. Os tempos de futebol alemão já foram melhores .... Junto com os jornais, com os programas de rádio, estivemos contentes com a convocação. „Sim, o técnico Klinsmann fez a única coisa certa“, reforçou o meu colega, „não ir pelo seguro, mas sim, riscar tudo botando um time jovem na grama“. Resumimos, que foi uma surpresa que o Kuranyi não foi convocado, achamos injusto porque no primeiro ano sob a batuta do Klinsmann, foi o Kuranyi que deu um brilho ao time. Sentimos com ele. Neste momento de compadecimento, uma outra colega entrou na conversa, lançando um olhar diferente. Achava o Kuranyi um cara arrogante, com uma barba feia. Ela torce para que o Odonkor jogue bem, como ela falou. Uma opinão suspeita, porque o marido dela e ela são donos orgulhosos de passes permanentes do time do Odonkor, Borussia Dortmund. - Voltando a trabalhar, de repente me lembrei da esposa do meu colega. „Amigo, o que a sua esposa está sentindo a respeito da Copa?“ A resposta: „Nada.“

O chocalho que espera

„Foi muito legal, até uma brasileira achava que fossemos brasileiros,“ a Claudia se entusiasmou com a apresentação das baterias de Colônia durante um treino da seleção brasileira na Copa de Confederações. Ela sentiu muito a respeito do técnico brasileiro, que estava irritado por causa do volume de som. „Mas valeu“, ela constou. A Claudia, mulher vibrante, rege a bateria `Surecata Colônia` (http://www.surecata.de/), que fui visitar ontém à noite. Os `Unidos de Colônia`, uma união de todos os 40 grupos da cidade, farão apresentações durante a festa de fãs, no centro histórico. Além disso, a Surecata não tem nenhuma dúvida, eles tocarão muitas vezes nas ruas da cidade, para esquentar o clima durante os jogos.

Nervosa, porque não tenho talento musical, mas corajosa e bem preparada - tinha comprado uns protetores para os ouvidos, aviso do Klaus, um dos coordenadores – me pus a caminho de Porz, um bairro bem distante do centro. Lá, 12 pessoas entre 30 e 40 anos, todas alemãs, me acolheram bem. Já estavam prontos para tocar e logo aos primeiros ritmos, aconteceu uma coisa fascinante. Aquela sala pequena naquele bairro meio sonolento, se transformou numa `ilha contagiosa`. Senti a música nos pés... Depois da pausa, não soube como escapar. Uma integrante me deu o seu chocalho, que ela sempre tem no carro. O sinal para eu começar foi um sorriso do Klaus. E o que dizer? Agradou-me muito sentir a força do grupo e entrar no ritmo, embora, confesso, o perdi às vezes.

Depois do ensaio fomos beber uma cerveja. „É uma troca de energia entre a bateria e o público“, uma outra Claudia descreveu o seu sentimento de tocar. „É tão divertido e contagiante“, o Alfred resumiu. Foi ele, que dois anos atrás, depois do Carnaval, organizou um curso de percussão. A hora da fundação do grupo. Tocar na bateria é uma questão de coração que os integrantes levam a sério. Duas vezes por mês, eles ensaiam junto com um professor. Há um sonho que ainda está por realizar, ir ao Brasil. Nenhum dos integrantes já foi ao Brasil.

„Vamos conservar quente o chocalho“, o Alfred disse rindo ao se despedir. Se vou acompanhar o grupo durante a Copa? Claro que sim!

Sabine Kiefer é antropóloga e reside em Colônia, Alemanha.
Observação: Respeitadas pontuação e grafia conforme o original preservado da fonte.

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