sábado, abril 01, 2006


O Judô e os deficientes visuais
por Walter Russo Junior*
A ausência ou a diminuição do sentido da visão coloca o ser humano, especialmente as crianças, em desvantagem em vários aspectos. Ocorrem defasagens psicomotoras, má adaptação sensoriomotora, sério comprometimento da autonomia e exploração espacial do indivíduo, porte defeituoso, entre outras anomalias, que acabam prejudicando o seu processo de ensino/aprendizagem e sua conseqüente interação na sociedade.
O medo de cair e se machucar ao andar na rua interfere na postura e no equilíbrio de quem tem problema de visão. Através dos rolamentos (ukemis), batidas e quedas, o deficiente promove a descontração muscular, ampliando suas possibilidades espaço-temporais. O fator “medo” passa, então, a não ser uma constante no cotidiano desses judocas.
Utilizando as técnicas de tachi-waza (derrubar a partir de uma posição de pé), o-sotogari, uki-goshi e seoi-nage, o professor procura oferecer a seus alunos conhecimento da função e ação de cada seguimento corporal, a fim de que o mesmo tenha melhor noção de sua estrutura física.
Algumas características físicas do judô e sua ênfase às valências físicas - agilidade, força, velocidade, postura e equilíbrio - atuam diretamente na organização e orientação espaço-temporal, bem como no aprimoramento da motricidade e na diminuição da inibição e da ansiedade.
Com o desenvolver das atividades, há uma melhora significativa da capacidade aeróbica (esforço físico por longo tempo) e anaeróbica (esforço físico por determinado tempo), bem como a coordenação motora dos alunos, trazendo benefícios em todas as situações de vida. Inclusive, na aprendizagem do sistema Braille, no andar, no vestir-se e no desempenho de suas funções profissionais.
Há também sensível melhora no campo da organização pessoal, com maior respeito ao companheiro e ao ambiente que o cerca. Um verdadeiro aprimoramento de sua personalidade e espírito de grupo.
Embora toda e qualquer prática desportiva seja de vital importância para o aprimoramento de deficientes, o judô tem se destacado por ser uma modalidade que preza pela disciplina. Afinal, o desporto tem no desenvolvimento da arte tão ou mais importância quanto o objetivo de vencer.
* Walter Russo Júnior é diretor da FJERJ e professor do Instituto Benjamin Constant

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