Judô x futebol
Carlos Mosquera
Comentar sobre as vitórias do judô no XXV campeonato mundial, no Rio de Janeiro, fica fácil nesse momento, pois as imagens não mentem. O que sobra, talvez, seja escrever porque o judô sendo tão competente nos seus resultados não é tão apreciado como o futebol. Vale lembrar que, aqui em Curitiba, na década de 80 tínhamos uma das melhores equipes de judô do Brasil, mesmo assim pouca gente acompanhava o judô. O “caminho suave”, tradução literal do judô, é um esporte individual, com características próprias. Não se pode transferir responsabilidades, nem ao menos “deixar para depois”. Diferentemente do ludopédico que é coletivo e as “obrigações” podem ser “terceirizadas”. Com isso, o jogador pode ser compensado pela disposição do seu companheiro, em casos de algumas indisposições. No judô, o atleta se concentra para não cair, este ato para os humanos têm uma simbologia do fracasso, quando é no tatame este sentimento parece que é maior. No bretão os atletas caem com uma escrupulosa lucidez, nem criança acredita mais nestes tombos. O palco verde dos boleiros é uma arena que transfere para o subconsciente dos torcedores a imagem de uma guerra, a possibilidade de superar o adversário a qualquer custo, podendo até parecer uma festa, em alguns momentos, pelo menos nas comemorações dos gols. Até o Vaticano já condenou aqueles que “levam o futebol demasiado a sério”, talvez por ter percebido o sentido religioso do jogo, ou mesmo a fé “desvirtuada”. O improviso da arte com a bola nos pés é permeada de ginga e suspiros, terminando em sorrisos e choros, o futebol não é linear, consegue resultados assim. No esporte japonês, com sotaque português, a lógica e a linearidade são os fatores mais importantes para a vitória. O improviso é pecado, a ginga é impossível, as ordenadas são treinadas exaustivamente, até a orelha se espedaçar – se você ainda não reparou nas orelhas dos lutadores, está perdendo tempo. Acho que estas diferenças são fundamentais para entender porque o futebol é tão apreciado, tão amado, venerado. Precisamos em algum momento da nossa semana de um pouco de improviso, de soltar o grito engasgado. No judô isso não é possível, a cultura nipônica não permitiu a evasão de sentimentos, os “keutsquei” eram fundamentais, por isso esta arte guerreira continua para poucos, felizmente, campeão.
FONTE: http://www.jornaldoestado.com.br/
Carlos Mosquera
Comentar sobre as vitórias do judô no XXV campeonato mundial, no Rio de Janeiro, fica fácil nesse momento, pois as imagens não mentem. O que sobra, talvez, seja escrever porque o judô sendo tão competente nos seus resultados não é tão apreciado como o futebol. Vale lembrar que, aqui em Curitiba, na década de 80 tínhamos uma das melhores equipes de judô do Brasil, mesmo assim pouca gente acompanhava o judô. O “caminho suave”, tradução literal do judô, é um esporte individual, com características próprias. Não se pode transferir responsabilidades, nem ao menos “deixar para depois”. Diferentemente do ludopédico que é coletivo e as “obrigações” podem ser “terceirizadas”. Com isso, o jogador pode ser compensado pela disposição do seu companheiro, em casos de algumas indisposições. No judô, o atleta se concentra para não cair, este ato para os humanos têm uma simbologia do fracasso, quando é no tatame este sentimento parece que é maior. No bretão os atletas caem com uma escrupulosa lucidez, nem criança acredita mais nestes tombos. O palco verde dos boleiros é uma arena que transfere para o subconsciente dos torcedores a imagem de uma guerra, a possibilidade de superar o adversário a qualquer custo, podendo até parecer uma festa, em alguns momentos, pelo menos nas comemorações dos gols. Até o Vaticano já condenou aqueles que “levam o futebol demasiado a sério”, talvez por ter percebido o sentido religioso do jogo, ou mesmo a fé “desvirtuada”. O improviso da arte com a bola nos pés é permeada de ginga e suspiros, terminando em sorrisos e choros, o futebol não é linear, consegue resultados assim. No esporte japonês, com sotaque português, a lógica e a linearidade são os fatores mais importantes para a vitória. O improviso é pecado, a ginga é impossível, as ordenadas são treinadas exaustivamente, até a orelha se espedaçar – se você ainda não reparou nas orelhas dos lutadores, está perdendo tempo. Acho que estas diferenças são fundamentais para entender porque o futebol é tão apreciado, tão amado, venerado. Precisamos em algum momento da nossa semana de um pouco de improviso, de soltar o grito engasgado. No judô isso não é possível, a cultura nipônica não permitiu a evasão de sentimentos, os “keutsquei” eram fundamentais, por isso esta arte guerreira continua para poucos, felizmente, campeão.
FONTE: http://www.jornaldoestado.com.br/
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