Quatro séculos de ShakespeareNuma colecção para o século XXI
Com o título «COLECÇÃO SHAKESPEARE PARA O SÉCULO XXI«, a Campo das letras está a editar a obra completa do incontornável escritor inglês e maior dramaturgo de sempre. No total, esta excelsa biblioteca terá cerca de trinta títulos e este «Como Vos Aprouver» é já o 14º, depois de «Canseiras de Amor em vão», editado há pouco. «Narrativa dramática sobre o amor, Como Vos Aprouver propõe uma meditação sobre a natureza caótica da sexualidade humana e das leis que a regulamentam. E é precisamente neste ponto que a comédia é assombrada pela percepção do sentido trágico da vida», escreve Fátima Vieira na magnífica Introdução analítica. «O mundo é um palco/ E todos os homens e mulheres simples actores: / Têm as suas saídas e entradas, /E, em vida, um só homem tem vários papéis, /Tendo os seus actos sete idades», escreve Shakespeare fazendo o retrato de cada idade humana e a sua artificialidade; «Ser ou não ser, eis a questão» que nos avassala todos os dias, e prova a notável actualidade dos textos shakespearianos.
A presente colecção é o resultado de um mega projecto do Instituto de Estudos Ingleses (IEI) da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e, segundo a editora, tem vindo a ser executado desde 1998 na investigação na área da Teoria da Tradução, da História da Tradução e da Literatura e Cultura do Renascimento inglês. Todas as traduções são, pois, realizadas pelos investigadores do IEI, anotadas e com uma introdução crítico-histórica a cada obra.
Ainda segundo a editora Campo das Letras, o Grupo de investigação é composto por Manuel Gomes da Torre, Gualter Mendes Queiroz Cunha, Rui Manuel Gomes Carvalho Homem, Maria de Fátima Sousa Basto Vieira, Filomena Maria Esteves Aguiar Vasconcelos, Maria Cândida Carvalho Dias Zamith Silva, Nuno Manuel Dias Pinto Ribeiro, Jorge Miguel Bastos da Silva, António M. Feijó e Maria João Rocha Afonso.
Deixemos o texto deste pouco conhecido «Como vos aprouver» falar por si, em dois extractos:
Cura do Amor, por Rosalinda disfarçada de homem:
Rosalinda: O amor é apenas uma loucura e, assevero-vos, merece tanto o quarto escuro e o chicote quanto merecem os loucos; e a razão por que eles não são punidos é que a demência é tão vulgar que até os chibateiros se apaixonam. Contudo, sou partidário de uma cura por meio de aconselhamento.
Orlando: E já haveis curado alguém?
Rosalinda: Sim, um e da seguinte forma. Teria ele de me imaginar o objecto do seu amor, a sua amante, e todos os dias o obrigarei a me cortejar. Então, aparentando ser de luas, mostrava-me ofendida, extremamente feminina, volúvel, ansiosa e prazenteira, orgulhosa, caprichosa, boçal, frívola, inconstante, lavada em lágrimas, toda sorrisos; a todas as paixões me entreguei, e verdadeiramente a paixão nenhuma, como os rapazes e as mulheres são, na sua maior parte, gado desta cor; ora gostava dele, ora o abominava; um dia recebia-o cortesmente, no outro repudiava-o; ora chorava por ele, ora lhe cuspia na cara; e assim fiz passar o meu pretendente de uma louca disposição amorosa para uma loucura real, que o levou a abjurar a torrente do mundo e viver em monacal retiro. E assim o curei, e desta forma me encarregarei de lavar o vosso fígado, deixando-o tão limpo como o coração de um carneiro saudável, sem uma só mancha de amor. (Pg. 116)
Apologia do Homem Corno
Bitolas: Ámen. Um homem poderia, se fosse de coração assustadiço, hesitar nesta empresa: pois aqui não há igreja, mas uma floresta, não há assembleia, mas gado de chifres. E então? Coragem! Os cornos são tão odiosos como necessários. Diz-se, “Há muito homem que não sabe o que tem”. Bem dito: há muito homem que tem bons cornos e nem sabe onde acabam. Pois bem, é o dote da sua mulher, não foi ele que os arranjou. Cornos? Pois sim. E calha só aos pobres? Não, não: os do mais nobre cervo são tão grandes como os do mais miserável. Será por isso o homem solteiro mais feliz? Não: uma cidade fortificada é mais digna do que uma aldeia, e assim é a testa de um homem casado mais digna do que a fronte despojada de um solteirão. E, tal como é melhor a defesa do que a inexperiência, também um corno vale mais do que a falta dele. (pg. 119)
Como Vos Aprouver, William Shakespeare; Editorial Campo das Letras, Porto, Janeiro 2008
contacto: teresa.kaminhos@gmail.com
A presente colecção é o resultado de um mega projecto do Instituto de Estudos Ingleses (IEI) da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e, segundo a editora, tem vindo a ser executado desde 1998 na investigação na área da Teoria da Tradução, da História da Tradução e da Literatura e Cultura do Renascimento inglês. Todas as traduções são, pois, realizadas pelos investigadores do IEI, anotadas e com uma introdução crítico-histórica a cada obra.
Ainda segundo a editora Campo das Letras, o Grupo de investigação é composto por Manuel Gomes da Torre, Gualter Mendes Queiroz Cunha, Rui Manuel Gomes Carvalho Homem, Maria de Fátima Sousa Basto Vieira, Filomena Maria Esteves Aguiar Vasconcelos, Maria Cândida Carvalho Dias Zamith Silva, Nuno Manuel Dias Pinto Ribeiro, Jorge Miguel Bastos da Silva, António M. Feijó e Maria João Rocha Afonso.
Deixemos o texto deste pouco conhecido «Como vos aprouver» falar por si, em dois extractos:
Cura do Amor, por Rosalinda disfarçada de homem:
Rosalinda: O amor é apenas uma loucura e, assevero-vos, merece tanto o quarto escuro e o chicote quanto merecem os loucos; e a razão por que eles não são punidos é que a demência é tão vulgar que até os chibateiros se apaixonam. Contudo, sou partidário de uma cura por meio de aconselhamento.
Orlando: E já haveis curado alguém?
Rosalinda: Sim, um e da seguinte forma. Teria ele de me imaginar o objecto do seu amor, a sua amante, e todos os dias o obrigarei a me cortejar. Então, aparentando ser de luas, mostrava-me ofendida, extremamente feminina, volúvel, ansiosa e prazenteira, orgulhosa, caprichosa, boçal, frívola, inconstante, lavada em lágrimas, toda sorrisos; a todas as paixões me entreguei, e verdadeiramente a paixão nenhuma, como os rapazes e as mulheres são, na sua maior parte, gado desta cor; ora gostava dele, ora o abominava; um dia recebia-o cortesmente, no outro repudiava-o; ora chorava por ele, ora lhe cuspia na cara; e assim fiz passar o meu pretendente de uma louca disposição amorosa para uma loucura real, que o levou a abjurar a torrente do mundo e viver em monacal retiro. E assim o curei, e desta forma me encarregarei de lavar o vosso fígado, deixando-o tão limpo como o coração de um carneiro saudável, sem uma só mancha de amor. (Pg. 116)
Apologia do Homem Corno
Bitolas: Ámen. Um homem poderia, se fosse de coração assustadiço, hesitar nesta empresa: pois aqui não há igreja, mas uma floresta, não há assembleia, mas gado de chifres. E então? Coragem! Os cornos são tão odiosos como necessários. Diz-se, “Há muito homem que não sabe o que tem”. Bem dito: há muito homem que tem bons cornos e nem sabe onde acabam. Pois bem, é o dote da sua mulher, não foi ele que os arranjou. Cornos? Pois sim. E calha só aos pobres? Não, não: os do mais nobre cervo são tão grandes como os do mais miserável. Será por isso o homem solteiro mais feliz? Não: uma cidade fortificada é mais digna do que uma aldeia, e assim é a testa de um homem casado mais digna do que a fronte despojada de um solteirão. E, tal como é melhor a defesa do que a inexperiência, também um corno vale mais do que a falta dele. (pg. 119)
Como Vos Aprouver, William Shakespeare; Editorial Campo das Letras, Porto, Janeiro 2008
contacto: teresa.kaminhos@gmail.com
FONTE (image include): Kaminhos On-line - Covilhã,Covilhã,Portugal
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