LITERATURA
A língua do probido
DA TERRA DO CROISSANT JÁ SAÍRAM CLÁSSICOS DO EROTISMO RELEMBRADOS NO ANO DA FRANÇA NO BRASIL
Além de Saint-Exupéry e de Sartre, o Ano da França no Brasil também oferece ao leitor brasileiro as travessuras de um outro S, o Marquês de Sade. Mestre do erotismo, Donatien Alphonse François de Sade (1740-1814) fundou uma tradição literária que atravessou os séculos.
A língua do probido
DA TERRA DO CROISSANT JÁ SAÍRAM CLÁSSICOS DO EROTISMO RELEMBRADOS NO ANO DA FRANÇA NO BRASIL
Além de Saint-Exupéry e de Sartre, o Ano da França no Brasil também oferece ao leitor brasileiro as travessuras de um outro S, o Marquês de Sade. Mestre do erotismo, Donatien Alphonse François de Sade (1740-1814) fundou uma tradição literária que atravessou os séculos.
Um exemplo dessa herança foi o testamento impresso deixado pelo grande nome do nouveau roman, Alain Robbe-Grillet, que em 2007, um ano antes de morrer, chocou público e crítica ao lançar “Um Romance Sentimental”, história de uma menina de 14 anos, Gigi, que recebeu uma “educação especial” do pai, que a obrigava a ler em voz alta, nua, textos dos escritores libertinos do século 18.
A edição francesa chegou às livrarias lacrada e com páginas parcialmente coladas. Robbe-Grillet, que descreveu a obra como um conto de fadas para adultos, apimenta a história ao acrescentar outra menina ao enredo, Odile, de 13 anos, um presente do pai a Gigi, que a transforma em escrava das obsessões e desejos mais sádicos dela.
O erotismo na literatura, é claro, não é uma invenção dos franceses. Na Bíblia, no Antigo Testamento, o “Cântico dos Cânticos” revela um Salomão sensual e afetuoso, diferente da tradição do rei justo e sábio. A poetisa grega Safo de Lesbos escreveu sobre o amor entre as mulheres, e deu origem às expressões “safada” e “lesbianismo”. E, na Roma antiga, o “Satiricon” de Petrônio descrevia, numa crítica à sociedade da época, as aventuras gays de quatro mancebos que aprontam e acabam no caldeirão da bruxa Circe.
Mas foi na França que a literatura obscena, libertina e transgressora ganhou força no final do século 18, quando as ideias revolucionárias, que culminariam com a queda da monarquia em 1789, questionavam não só a estrutura social, mas, também, a moral católica vigente.
Em 1782, Choderlos de Laclos (1741-1803) escreveu “As Ligações Perigosas”, romance em forma de cartas que fustigava a nobreza francesa ao expor a malícia e a vileza de uma elite fútil e manipuladora. O romance foi adaptado ao cinema por 11 diretores, entre os quais Roger Vadim (em 1959), Stephen Frears (1988) e Milos Forman (1989).
Maior escritor libertino, o Marquês de Sade escreveu “Justine” ou “Os Infortúnios da Virtude”, sobre as desventuras sexuais de uma garota pobre, em 1787, às vésperas da Revolução Francesa. Foi a primeira obra de uma série de escritos repletos de perversões, crimes e violências, como na reflexão sobre a tirania e o poder de “Os 120 dias de Sodoma” e o boudoir como espaço para a iluminação da razão de “A Filosofia na Alcova”, textos que o levaram ao hospício, tanto pela monarquia, quanto pelos revolucionários e Napoleão.
Seus últimos dias no hospício de Charenton foram tema do filme de Philip Kaufman, “Os Contos Proibidos do Marquês de Sade” (2000). Completando o triunvirato libertino, Restif de la Bretonne (1734-1806) escreveu em 1798 uma resposta ao sexo como elemento destrutivo de Sade. Em “Anti-Justine”, os personagens estão livres de regras morais. Não são amorais porque seus atos procuram o prazer, sobretudo o feminino. Tudo é permitido, exceto o sofrimento.
DORVA REZENDE FONTE: A Notícia - Jornal de Joinville - Joinville,Brazil
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